1 de julho de 2010

(Para Elis, com Salvador Dali, A Persistência da Memória)

Exorcismo

Amor que desce, amor que nem procura
de um a ser mundo o sopro repetido;
amor em quem não vive o quanto dura,
no morto antes de tempo, o não vivido;


amor, a quem não resta a fonte obscura
daqueles cujo peso foi perdido;
amor que não conhece mais ternura
além da que não quis sangue vertido:


(Anjo que passas no desdém da terra,
que terra não existe em tuas penas?
Que Sol, de iluminá-las tão serenas,
se perderá das órbitas que encerra?)


amor vidente que o olhar tritura;
amor — saudade pura sem sentido.

Jorge de Sena

2 comentários: